Comentários de Capitão America: Guerra Civil

     É o seguinte: Capitão América: Guerra Civil já faz o sucesso e os corações da galera, fãs e passantes estão delirando com o novo Homem Aranha e com o Pantera. Esse post TEM SPOILERS MODERADOS, bem como contém imagens do filme e cenas que apareceram em trailers. Se você prefere ficar numa caverna até ver o filme, fique aqui com o Wolverine e o Aranha.

  Beleza, dito isso. Vamos ao bravo investimento anual da Marvel Studios. O filme é, de fato, uma história que cabe facilmente numa revista do Capitão America. Os irmãos Russo voltam com a estética de luta seca e direta de Capitão America: O Soldado Invernal. As porradas têm peso na cena e as habilidades de Steve Rogers são postas em cheque, assim como sua durabilidade.
     

    A construção de Steve como peça chave do filme é sensacional. Da mesma forma que ele perde seu vínculo mais importante com seu passado, com a morte de Peggy Carter; Ele é trazido às motivações de uma nova vida, com a reaparição de Bucky Barnes e suas memórias, o vínculo com os Novos Vingadores e o interesse em Sharon Carter. O Capitão America é o soldado perfeito, o líder destemido, o melhor amigo e o trouxa apaixonado alternando entre atos implícitos e explícitos.


    O problema com a polarização de ideias vem com os atos dos superseres. Com o incrível monólogo do Visão, em determinado ponto deixa claro que: Apenas o fato de super heróis existirem já torna real a necessidade deles agirem. E depois de tantos conflitos, como a Batalha de Nova York (Os Vingadores), o sequestro do Presidente dos EUA pelo Mandarim (Homem de Ferro III), A Revelação da Hydra em Washington D.C. (Capitão America: O Soldado Invernal), o descontrole do Hulk na África do Sul e depois Ultron em Sokovia (Vingadores: A Era de Ultron); A gota d'água foi a explosão que matou civis Wakandanos na Nigéria.
    De fato, Wakanda sofre grandes perdas nesse filme. O que desperta a ira de um Rei Guerreiro.


   T'Challa é profundo. Sério. Um homem que foi marcado por uma tragédia e cuja educação e realeza são sentidas de ante de sua aparição. Um guerreiro que não necessitou de explicação para suas incríveis capacidades marciais e acrobáticas. Ficou claro que a natureza misteriosa de sua nação, Wakanda, permitiu a ingressão das características do Pantera Negra, bem como esse título e manto à T'Challa sem que a audiência questionasse o por quê.
    Os diálogos entre pai e filho cessam explicações aprofundadas de origem, pois são autossuficientes. E o encerramento da participação do Pantera Negra é de se aplaudir em pé.

  A pressão exercida pelo Pantera na trama é auxiliada pela surpreendente atuação de Tony Stark no filme. Stark está cansado, sua vida pessoal fora esfacelada pelo Homem de Ferro e a iniciativa Vingadores, suas tragédias pessoais e a culpa de tantas mortes em sua consciência ainda o afetam, algo que o segue desde os tempos de fabricante de armas.
      A palavra que melhor o define nos debates com Steve e os outros Vingadores é aflição. Tony está aflito, está acuado e pressionado pela culpa que sente; tanto pela criação de Ultron quanto pelas mortes em Sokovia e ao mesmo tempo pelos danos que ele e a equipe são capazes de causar enquanto salvam vidas, como ocorreu em Lagos e é refletido em seu medo em relação à Wanda Maximoff.

    A cena introdutória de Stark no filme, e sua motivação final na trama definem um traço de humanidade sincera ao personagem e apagam, mesmo que momentaneamente, as nuances egocêntricas e ácidas que Tony preserva à quase nove anos nas telas. Porém, durante o desenrolar do filme, o controle político e a autoridade que o Homem de Ferro impõe passam crédito ao personagem, bem como à quem ele carrega. E assim, o pioneiro dos filmes Marvel foi incumbido de introduzir o maior amigão que a vizinhança já teve.


     A audiência teve a oportunidade de conhecer Peter Parker, pela primeira vez no cinema. O verdadeiro Peter Parker. O verdadeiro Homem-Aranha. O adolescente, o nerd, o garoto que entende que com grandes poderes herdam-se grandes responsabilidades; frase essa que quando recitada pelo jovem mancebo Parker, de forma mais subjetiva, à Tony Stark em seu dilema atual; arranca do velho Homem de Ferro uma reflexão sobre todo o conflito.
       Para Peter, não agir em prol do próximo com seus dons é negar o propósito de tê-los, e isso por si só é o maior questionamento do filme, com toda a concepção do acordo de Sokovia e as limitações dos superseres.


      No que interessa ao público. O Homem-Aranha é Espetacular e honra tanto Steve Ditko quanto Stan Lee. Um adolescente piadista vestindo um Collant azul e vermelho, que com sua genialidade e extrema sagacidade faz comentários sobre física, e até mesmo usa uma tática que viu em um antigo filme nerd para dar cabo de um inimigo maior do que ele. Realmente, quem sabe faz ao vivo. O Aranha está nas mãos de quem nunca deveria ter saído, está nas mãos de quem sabe o que fazer com ele.
      A volta de outro personagem foi marcante para o filme. Com Bucky Barnes de volta à peleja, o Soldado invernal não perdoa ninguém quando as palavras certas são ditas à ele; através da terrível lavagem cerebral que ele sofreu e de toda a sua trajetória como assassino frio. Fica claro que Barnes é uma máquina de matar.

     O que não é problema para a Viúva Negra. Que representa muito bem à fatia feminina de fãs nas sequências de luta, deixando espaço para Sharon Carter. Sharon, por sua vez, mostra um lado mais prático, reflexivo e determinante para o lado do Capitão; Tornando sua participação no longa louvável e sai de cena fazendo a sala de cinema pedir por mais Sharon&Steve.

   Já a Viúva deixa o filme com uma certa carga de suspense. Obviamente que, sendo a espiã que é, não faz questão de ser leal à um único lado do conflito. Ela acaba protagonizando sequências de ação que revelam mais de sua natureza de agente violenta e experiente do que os outros filmes, onde ela era uma personagem sombreada pelos outros grandes heróis, aqui ela ganha um bom espaço para exercer seus dons matadores sem tanto pudor.


 
 

  O filme é cheio de personagens com muito background e informação pra dar. O mais interessante, é que eles todos funcionam com seus diálogos comedidos e ações condizentes, são as engrenagens que fazem o filme fluir em seu clímax. E o fato de todos esses reservas já serem coadjuvantes em essência já torna previsível o papel deles, mas o espetáculo é garantido, nada ali é despropositado.
         

   As consequências do filme para o Universo Cinematográfico não são pequenas nem são poucas. O filme termina com uma nota grave que continua ecoando, e apesar de parecer um final positivo, é na realidade um final apreensivo, tanto para o futuro dos Vingadores quanto para o futuro do próprio Capitão America.

    É como um grande arco de Quadrinhos. Se for continuado direito desta vez, e não como o final de A Era de Ultron, que sai desprezando outros acontecimentos e atos que Capitão America: Guerra Civil conseguiu contornar, será chocante. Aguardamos ansiosos o retorno de todos esses heróis às telonas com a perspectiva de Guerra Infinita. Alguns mais que outros.