quinta-feira, 4 de agosto de 2016

2644 - EPISÓDIO VI: Impasse


        São Francisco é o paraíso Asiático do ocidente, o último reduto da imponente e hegemônica cultura japonesa na Terra. desde que o arquipélago afundou por inteiro cerca de 90 anos atrás. Na Califórnia, manhãs escaldantes como aquela que se abatia sobre a pequena quitinete abafada das colegas de estágio, eram normais.
- Ela tá demorando demais. – Laura andava de um lado para o outro do quarto, até seu dedão esbarrar no tornozelo de Seth, sentado ao chão com as pernas esticadas, e ela voar de encontro ao próprio colchão.
­- Não entendo a sua euforia, essa gente é importante pra você? – Foi o que ele perguntou, vendo a garota estropiada entre a parede e o colchão, segurando o pé de dor.
­- É... São importantes, sim! – Laura respondeu tentando por ordem no alvoroço que se tornara sua longa juba negra após a queda.
- Eu só espero que não sejam mais problemas. – Katie comentou passando da "cozinha" para o quarto em meros cinco passos.
         O quadro holográfico se apresentou para eles, flutuando. Indicando que haviam visitantes para a quitinete esperando no diminuto saguão do antigo prédio. Laura, sentada em seu colchão, esticou o braço e estalou os dedos; chamando a atenção do quadro, que voou até ela se ajustando ao nível de seus olhos. Ela então esticou o polegar para a tela holográfica, permitindo a entrada dos convidados.
- Aí vem ela... Trouxe amigos. – Disse Laura se levantando de um salto. Seth ficara mais tenso, porém não esboçava nada.
         Katie estendeu a mão para o círculo vermelho da porta, que mudou a coloração para verde e deslizou para o lado, abrindo caminho para a figura esguia de Gaya, com seus altivos olhos púrpura, para o desconfiado Grigori e a enorme sombra do Major Stewart, ambos carregavam pesadas malas de passeio em um dos ombros. Laura se adiantou para abraçar com força Gaya, que bambeou um pouco com a intensidade violenta da garota mas, retribuiu o abraço.
- Esse é o Grigori e o outro é o Major Stewart. – Gaya apresentou os parceiros. Grigori ergueu a mão para a moça, mas também recebeu um abraço.
- Eu me lembro dele. Papai falava bem de você. – Laura ressaltou dando alguns passos para trás e se virando para Seth e Katie.
- Seus amigos? – O Major Stewart perguntou, cruzando os braços e fazendo parecer que seus bíceps aumentaram de tamanho.
- Katie. Seth. – Laura respondeu apontando com o polegar para cada um dos dois enquanto se postava entre eles.
- Esse é o... nosso colega que precisa de ajuda, eu suponho. – O Major prosseguiu com cautela ao se dirigir à Seth. Não chama-lo pelo termo pejorativo de Mímico ou cópia seria de grande proveito para manter relações boas.
         Seth nada respondeu, o silêncio começou a esmagar o ambiente. Katie o olhou mordendo os lábios, então tocou seu braço e se colocou entre os visitantes e os amigos.
- Seth, presta atenção. Eles vieram aqui pra te ajudar, trouxeram a sua identidade nova, e vão ajudar a gente a esconder você... – Ela explicava tudo calmamente, como se explicasse para uma criança porquê é necessário ir à escola.
- Mas, por que eu devo me esconder? Só quero que me deixem em paz. – Ele cortou a explicação da amiga, para a surpresa de ambas. Galyantra também se mostrou incomodada e se pôs a dar explicações.
- Antes de mais nada, as identidades e vistos novos não são só pra ele! Vocês violaram o sigilo de um projeto corporativo. Privado. – Ela informou às meninas, que se entreolharam em uma assombrosa pausa, na qual percebiam a verdadeira extensão da confusão em que se meteram.
- Caso não saibam, senhoritas, vandalismo ou espionagem corporativa é passível de morte neste país. – Concluí Stewart, atrás de Gaya. Katie levou as mãos a cabeça e Laura, por sua vez, à boca.
- Relaxa, ninguém lê os termos antes de assinar mesmo. – Grigori arriscou aliviar a tensão.
         A discussão entre as três mulheres prosseguiu no meio da apertada saleta de estar. O Major continuou à porta, verificando o estreito corredor e o hall dos elevadores enquanto inspecionava os mantimentos das malas; ao passo que Grigori se postou atrás de Gaya para ouvir as perguntas das aterrorizadas garotas, Seth estava no portal entre a saleta e o cômodo que servia de quarto. O rapaz ouvia atentamente a conversa dos estranhos com as amigas, ainda um pouco desconfiado.
         Encabulado o bastante para ouvir o som de rotores antigravitacionais de alguma espécie de aeronave se aproximando. Ele ergueu o olhar para a roda de conversa e percebeu Grigori olhando intensamente para a janela além dele no quarto, algo se iluminava sutil e estranhamente por debaixo de seu tapa-olho. Seth inconscientemente começou a flutuar.
- Acabou o papo! – Grigori avisou se arremessando contra Gaya e Laura, levando ambas ao chão.
         Nesse momento, A parede do quarto explodiu atrás de onde Seth deveria estar, microssegundos atrás. Nas últimas ínfimas frações entre segundos, o humanoide se impulsionou no ar e envolveu Katie, que estava exatamente em linha reta com o portal entre a saleta e o quarto e seria atingida em cheio pelos estilhaços e o calor da detonação. O calor dos momentos seguintes era insuportável e o som ensurdecedor varreu do espaço pequeno os gritos das garotas.
         No chão, Gaya se colocou sobre Laura, e Grigori sobre ela. Protegendo a menina de qualquer dano. Seth segurava Katie, que agarrava a jaqueta de polímero amarela e preta do rapaz com força; Ele flutuou com ela se lançando contra a parede oposta da saleta e a soltando atrás de um velho sofá. Se ergueu para olhar o rombo na parede e viu, ao abaixar da poeira, um Planador Sônico de Decolagem Vertical pairava à altura do apartamento.
- Segundo o Protocolo Constitucional 289-03, vigente à resolução da jurisdição corporativa. Vocês estão presos por terrorismo e tráfico de produção ultrassecreta. Permaneçam parados. – Anunciou o piloto do planador de seus pesados propagadores de som.
- Merda, esses caras são ousados! Stewart!!! – Gritou Grigori, do chão para o major Stewart, que adentrou o apartamento novamente com uma escopeta de bombeamento MOSS.308, e começou a descarrega-la no planador. Os pesados cartuchos faziam pesados estragos em sua fuselagem, um por vez.
Tchack-Thack.
Blam.
Tchack-Tchack.
Blam.
         No último dos dez cartuchos que enchiam seu cano, a escopeta pesada do Major perfurou a blindagem à gel do vidro do piloto, danificando seriamente o display holográfico que se projetava nele. Sem visão, a aeronave retrocedeu e liberou a área para os operativos de solo.
- Vocês trouxeram eles aqui! – Seth se precipitou para o Major, que descansava a arma em posição de sentinela. Mesmo sabendo que a força do humanoide seria quatro vezes a própria, Stewart o peitou de volta.
- Põe essa noz de plástico que inventaram pra você e chamaram de cérebro pra funcionar! Por que caralhos a gente entraria aqui primeiro e depois se mataria numa explosão? – Grigori disparou, já enfurecido pela situação. Retirando a jaqueta laranja e revelando o pesado colete de polímero de Khanü e Kevlar em gel sob a camiseta preta. Na parte de trás de seu cinto estava a imponente faca Bowie.
- Vou tirar elas daqui! Ouviu isso loura? – Gaya virou a cabeça, como se falasse com alguém, em sua mente, através de um receptor tecno-sináptico implantado; ouviu a resposta de Aleksandra Volkovena.
- Copiei. Merda, esses caras são bons, to redirecionando vocês pra saída de incêndio. Mas, vão precisar de cobertura! Têm nove assinaturas térmicas subindo pelo elevador principal! – Aleksandra visualizava a imagem do calor de vários corpos através de seu link hackeado, através do acesso roubado que conseguiu das câmeras de segurança do prédio.
- São onze. Dois pelotões e um comandante. – Grigori corrigiu, havia retirado o tapa-olho e fixava o olhar em algum ponto no chão do corredor, o que realmente via era o elevador subindo com um comando tático de mercenários.
- Droga, quase acertei... – Ele ouviu a hacker responder no Com.Link em seu ouvido. Virou-se e começou a ajudar Stewart a descarregar o conteúdo das malas.
­- Eu vou com elas, vou tira-las daqui em segurança. – Determinou Seth.
- A decisão é sua garoto. Se cê acha que aqui tá abafado é melhor se retirar, porque isso aqui vai pegar fogo. – Declarou o Major terminando de trajar seu imponente Exoesqueleto IDUA.

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