Com o alvorecer da Segunda
Renascença Humana, na virada do século XXI. O auxílio tecnológico provido pelas
raças alienígenas que faziam da Terra um posto de troca até Alfa Centauri,
permitiram o aprimoramento das interfaces de comunicação para um sistema de
conexão neural. No qual a tradução dos dados era feita de forma didática e
"física"; tornou-se possível tocar com as próprias mãos toneladas de
gigabytes em arquivos, através de representações gráficas muito precisas.
Ao final da fase inicial do projeto. Uma empresa sueca
patenteou os direitos sobre a tecnologia ensinada pelos Annunnaki, conhecida
por ser uma das raças mais severas e inteligentes no sistema solar, bem como
verdadeiros nômades siderais. Com a dita patente em mãos, a Lumerian Enterprises despontou no mercado mundial com a B.A.B.E.L.
Tornando o sistema holográfico de interfaces de comunicação,
algo secundário e as arcaicas Touch
Screens, obsoletas. O projeto B.A.B.E.L transferia o bruto das sinapses e
da atividade mental, bem como escaneava a massa cinzenta do usuário para
renderizar sua consciência no cyber-espaço. Tal tecnologia, obviamente, teve
sua inauguração na área militar e lá foi mantida em segredo até a chegada da
década de 2160. Uma vez que os servidores e aprimoramentos do maquinário de
transferência do modelo MK.1 já eram
extremamente obsoletos.
Para acessar tais servidores; para adentrar à Biometric Artifitial Brain for Enhanced
Logic; ou simplesmente B.A.B.E.L. Era necessário um Deck de Absorção. Que era constituído pelo emulador de consciência,
os diversos eletrodos que saiam de seu console, e duas agulhas principais a
serem introduzidas na medula e na base do trapézio.
Era com duas dessas agulhas para inserção virtual que Katie
auxiliava Laura a se plugar na rede biométrica singular de informação. Deitada
em uma cadeira reclinável, uma verdadeira peça de antiquários; um acento que
remontava aos antigos consultórios de dentistas do século XXI.
-
Cuidado com essa merda. Pelo amor... *urhg* – Laura alertava a
amiga, que sem cerimônia perfurou dolorosamente sua cervical com o agulhão do Deck de Absorção, por um buraco na parte
de trás da cadeira.
Observando, sentado em um
banquinho no canto do quarto, apinhado de pôsteres de bandas Techno e cases e mais cases de
livros digitais de faculdade; estava a cobaia PS-127. Levantando-se, caminhou
até o acento em que Laura se deitara, e gentilmente pediu a segunda agulha à
ser inserida no trapézio da moça.
- Eu
gostaria de tentar, li vários dos seus livros de Engenharia Neurossintética. –
Ele informou, pedindo a agulha que Katie segurava com a mão estendida.
A
réplica de Katie foi entregar a ele a agulha de conexão, após alguns segundos
ponderando se realmente um cérebro artificial conseguia consumir tanta
informação num espaço tão mínimo de tempo. Pelo jeito, conseguia. A precisão
com a qual a agulha foi inserida no trapézio de Laura foi tamanha, que
imediatamente o estado característico de catatonia, gerado pela máquina, a atingiu.
Inicialmente, a onda eletrostática inundou a medula de Laura. A
descarga acelerou sua atividade cerebral ao máximo, era possível perceber pelo
arregalar de seus olhos, e a respiração rápida e descontrolada. Até que os
níveis de consciência, sinalizados no servidor holográfico ao lado do console
da máquina, despencaram abruptamente. Os olhos da garota então se reviraram nas
órbitas, enquanto suas pálpebras se fechavam, e ela não mais estava em um
quarto, numa quitinete em São Francisco.
A consciência dela vagou delirante pelo ciberespaço por
alguns segundos, até que a necessidade humana de noção corpórea a atingiu. E lá
estava Laura, inteiramente projetada em meio à infinitas linhas de código
holográficos.
- Eu
avisei para não me procurar, Laura. Agora sai da minha matriz de operação antes
que apareçam clientes. – Uma voz feminina se projetou no ciberespaço,
no que a consciência emulada entendia como som; na verdade eram linhas de
código sendo interpretadas no córtex e reenviadas para o usuário.
-
Mas eu vou ser a sua cliente hoje, Gaya. – A garota respondeu
à "voz" depois de alguns segundos hesitando.
A "voz" deixou escapar
uma risada, ao passo que pixels incandescentes
formavam o corpo de outra jovem mulher com um certo flickering. A miragem da nova ocupante da sala tremeluzia a medida
que ela caminhava até a visitante.
-
Prometi para o seu tio que não meteria você nos negócios, e isso inclui a minha
área. – Galyantra Al'Feyt caminhou até Laura graciosamente; seus olhos, sutilmente
maiores, cintilavam o púrpura hipnotizante de sua íris. Projetava-se ali tal qual
era sua forma no mundo real, seu corpo parou de tremeluzir e adotou o tom de
pele ligeiramente avermelhado, oriundo da Lua. A emulação era perfeita, tamanho
era seu controle mental na B.A.B.E.L.
-
Por favor, a gente... Eu, só preciso de alguns documentos falsos. –
Laura ensaiou, seu corpo virtual falhava conforme sua euforia interferia em seu
controle mental no ciberespaço.
- O
quê que você fez, hein? Da última vez que ouvi de você foi quando entrou
pra'quela empresa geneticista nojenta. – Galyantra rodeava o avatar
de Laura sem tirar os diamantes púrpuras que eram seus olhos, da forma digital
da amiga mais nova; a encarava em um tom de avaliação, franzindo a testa.
Mesmo na B.A.B.E.L, Laura
pôde sentir o magnetismo do olhar da moça, analisando-a. A mente disparou em
soluções e seu corpo virtual dispersou em um flickering
absurdo. Quando voltou a normalidade de uma estrutura corpórea normal, ela inqueriu.
- Já ouviu falar de um Mímico? – A
menina encarou os olhos púrpuras, que já extraordinariamente projetados, se
arregalaram mais ainda.
- O
quê você fez, Laura? Me diz que você mexeu num vespeiro e não nos arquivos da
TAG! – Espantada, Galyantra se aproximou abrupta e intimidadoramente da
garota, encostando em seu avatar. No mundo real, o corpo de Laura se contorceu
em um espasmo violento, assustando a amiga e o rapaz que a aguardavam.
-
Foi muito rápido! Mas, ele tá com a gente agora... Ele é uma boa pessoa, ou
coisa... ou seja lá o que ele é! Mas, ele não tem culpa! Ele não entende! Por
favor, Gaya! São só alguns documentos de identidade, o nome dele é... –
Laura proferia freneticamente, a medida que as linhas de código ao seu redor se
quebravam e ruíam, o chão descascava em enormes equações flutuantes, cintilando
em verde. Um enorme abismo se abriu entre as linhas de código, a meros
centímetros dos calcanhares dela.
-
Presta atenção, garota! Fica aonde você tá e não abre a porta pra ninguém. Eu
tô indo pra aí! – Gaya disparou, antes de empurrar a jovem para o abismo do
ciberespaço.
- O
nome dele é... PS127...Cento e vinte... sete...sete...sete...sete... –
Enquanto despencava de volta ao mundo sólido da realidade, a consciência dela
travara nas últimas "palavras" que proferiu para os olhos alienígenas
de Galyantra.
Na cadeira, conectada ao deck de inserção, Laura convulsionou.
As veias em seu pescoço saltavam brutalmente enquanto seus olhos reviravam nas
órbitas. Relaxar é um pré-requisito importante para entrada e reentrada em
ambos os mundos, coisa que a jovem não conseguira fazer.
-
Merda! rápido, pega uma cápsula de Teto-Preto! vai estabilizar o fluxo de
adrenalina, vou pegar um palito... – Katie apontava para um pequeno
case com dúzias de pílulas
transparentes, que continham um gaseificado laranja fluorescente.
- Sem
tempo. – O jovem respondeu, abrindo a boca de Laura com o máximo de
gentileza possível. Ela mordeu violentamente os dedos dele, que tentava colocar
a cápsula de baixo de sua língua. Porém, ele não esboçou qualquer reação à
violenta mordida.
Após momentos de excruciante apreensão. As convulsões se
reduziram a espasmos e o leitor holográfico que flutuava pelo quarto em um
retângulo azul-elétrico, indicou a normalização das atividades cerebrais e
fisiológicas de Laura. Ao passo que ambos se inclinaram para ver os olhos da
garota se abrirem, puderam ouvir suas primeiras e embaraçadas palavras.
-
Seth... 'Bri... Brigada...
Obrigada... – Balbuciou Laura, e se jogou da cadeira, abraçando o rapaz.
- Soa bem. Seth... gostei. – Katie se largou no colchão de gel, com um sorriso travesso.
- Soa bem. Seth... gostei. – Katie se largou no colchão de gel, com um sorriso travesso.
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