Capítulo 1 - Um porto
comum
Qual é o sentido dessa vida, se não
aquele que você mesmo aprende a dar pra ela?
Dwayne
sorriu ao se lembrar da frase favorita do pai, um homem simples que poderia ter
se tornado um importante oficial na frota edenista. Trocou tudo por um submergível
pesqueiro e um apartamento em Nova Ambrósia. A vida que ele buscava não era
gloriosa em termos, mas lhe garantiu um sorriso no rosto até o fim.
Ali,
encostado na lateral do edifício corroído pela brisa do mar, esperando por seu
empregador. O jovem que acabava de completar seus 25 anos, observava o cais do
porto de onde seu pai costumava zarpar . O cheiro da água do mar adentrou suas
narinas e o rapaz voltou sua atenção aos transeuntes na praça em que se
encontrava. Marinheiros da União Mercantil Ocidental passavam com pesadas
caixas de metal, feyties trocavam informações e condimentos em uma barraca no
outro extremo da praça, em seu idioma rápido e espalhafatoso do extremo
oriente, túnicas coloridas e ornadas com bijuterias diversas.
Notou
as belas damas do bordel da esquina vindo em sua direção. Uma das moças, a de
cabelos esmeralda com uma trança ornada em dourado que atingia suas cochas, o
cumprimentou. Foi puxada pela cintura pela colega, cujos cabelos raspados na
lateral ajudavam a formar uma ilha roxa no topo da cabeça, seu rabo de cavalo
seguia o mesmo tom roxo, ambas com tiras de couro escarlate que tapavam seus
seios e vergonhas. Dwayne as observou irem até a praça caçar um lanche que não
fosse nem a comida extremamente picante das terras de Al Fayet, nem a massa
laranja e sem gosto, gratinada com anchova que os sklonïsteses trouxeram do Grande
Abrigo.
O
pôr do Sol trazia os hololetreiros de volta ao cenário, projetados pelos
diversos postes de holografia na praça, em um turbilhão de cores que
contrastavam com a arquitetura decrépita e mal acabada de tijolos e reboco dos
prédios. Num deles, um Edenista de porte atlético e autoritário convocava
infantes ao serviço naval; Noutro, um Camponês de Jericoh convidava os
transeuntes a experimentar as iguarias de seu Bar/Hotel em Nova Ambrósia.
Nenhum era de grande interesse ao jovem adulto que já perdia a paciência devido
a espera, notou na holografia de uma casa noturna, um relógio, se deu conta de
que faltava um minuto para o horário combinado e riu em escárnio.
O
intercomunicador do edifício tocou. Dele, uma voz rouca e irritantemente
pausada fez uma pergunta:
- O dia de hoje é propício a monção? – A voz
pronunciou segura que haveria alguém ali, do lado de fora, para lhe responder.
- Depende da sua
posição na colina, Dowson. – Dwayne respondeu, olhando em volta. Ninguém ligava
para sua presença ali, os transeuntes estavam absortos em suas próprias
atividades sombrias.
- Oh, você não aprende! Entre... – A voz
abandonou a pausa e o decoro, em seguida veio o som elétrico da trava liberando
a entrada do rapaz.
Dwayne subiu a escadaria do
prédio antigo até o quinto andar, aonde o corredor encardido levava a uma única
porta de metal pesado, com contornos em amarelo e preto indicando isolamento,
incluindo placas em vários idiomas pedindo distância e identificação. Ele
caminhou calmamente até o portal, ignorando um bêbado jogado à parede ao seu
lado, tocou a superfície de metal para descobrir o cano de uma arma nas costas.
- Você me irrita
tanto quando faz isso... – Ele revirou os olhos, se virou e empurrou o cano da
pistola bowie para o lado. – Anda logo, Dow. abre a porta!
O " mendigo bêbado"que
segurava a pistola abaixou o capuz do blusão, mesmo assim continuava parecendo
um mendigo bêbado. A barba ruiva desgrenhada e os cabelos já ralos para alguém
relativamente jovem, só ajudava os olhos verdes imensamente estrábicos a criar
um visual terrível para Dowson. Ele abaixou a pistola como uma criança
desapontada. Passou por Dwayne e empurrou a porta. Entraram no apartamento, que
não combinava nada com o dono.
junto a parede havia uma cama e
um homebar, junto à uma escrivaninha.
Objetos simplórios que contratavam com os avançados terminais e telas de
computador cheias de linhas de programação que enchiam todo o ambiente. Ao
centro da sala, havia um círculo de cabos luminosos de circuitos integrados delimitando
uma Holocâmara de onde, dadas as certas linhas de programação, era possível
alterar, revisar, programar e destruir fisicamente dados de qualquer tipo.
- Você não
respeita os nossos códigos, cara. todo o segredo e tals. – Dow começou o
desabafo pulando os enormes cabos de alimentação que cruzavam o assoalho, se
conectando em terminais de todos os cantos do aposento.
- Me faz um favor?
Cala a boca e me dá a minha parte dessa merda. – Dwayne lhe entregou um pequeno
disquete preto e laminado, o ruivo o retirou de suas mãos como se o pequeno
software fosse uma espécie de ídolo de ouro.
Caminhou até uma bancada, onde instalara seu desktop principal e se
sentou na cadeira, começou a girar no acento observando o disquete.
- Vale o que o
contribuinte pagou, passa a minha parte agora, "chefia". – O rapaz pediu, acompanhando o colega
estrábico redigir um programa. Logo, no centro do apartamento, surgia na
holocâmara layouts de contas bancárias, bancos de dados econômicos, mapas de
navegação, controles militares, tudo manipulável fisicamente; bastando entrar
no circulo da câmara. Os dois homens se aproximaram dos limites de fora do
circulo holográfico.
- Bem-vindo de
volta à B.A.B.E.L, Dwayne. – Dow colocou a mão no ombro de Dwayne e ergueu o
outro braço, indicando para que o rapaz entrasse no circulo.
Quando ambos entraram no círculo,
puderam admirar a rede de informações digital do planeta. Informações em
laranja e vermelho vagavam num espaço negro, ali dentro o quarto já não mais
existia. Dowson se adiantou para uma informação que passava flutuando por eles
e tocou-a, logo o globo holográfico se abriu inteiro na conta bancária de
Dwayne. Com as próprias mãos, o ruivo estrábico adicionou números e fez transações com outra conta, parecia pintar um
quadro com os dedos nus.
- Pronto. Na sua
conta. 250.000 Techgrants. – Downson
não parecia tão maníaco dentro de seu círculo holográfico de onde acessava a
rede de informações digital. Talvez por aquele ser, para ele, seu mundo real.
- Tranquilo. – Dwayne sussurrou, ficava admirado toda vez que adentrava aquele
"mundo".
- Nosso contrato
vai ficar feliz, lavei todo o extrato e multipliquei os algoritmos. Em três
meses ele será mais rico que seu adversário usando o próprio dinheiro do
babaca, genial! – Dow ria do que tinha sido sua própria ideia para a operação.
- Que bom, parte
desse pagamento vai só pra abastecer minha barca. Foi uma puta navegação pra
conseguir esse disquete. Três dias fora da rota perto do protetorado, mais três
pra voltar. – Dwayne se lamentou, nesse momento, seu colega percebeu que havia
algo de errado.
- Tá fazendo o
trabalho de campo sozinho agora? Cadê a Ga...
- Ela...Não faz
mais questão de andar comigo. – O rapaz cortou o ruivo, que coçou o queixo
precariamente, impedido pela barba.
Dowson encerrou a sessão
holográfica e voltou a bancada, entregou a Dwayne o disquete e se sentou,
analisando o amigo. – Joga no mar! – Comentou apontando para o disquete nas
mãos do amigo.
- Deixa comigo...
– Dwayne concordou, impassível.
- Olha, Edward, se
quiser conversar... Eu não sabia disso, cara. Mas você vai se sair bem com ou
sem a Ga...
- A minha tia
Dilly me chamava de Edward. Eu to legal Dow, vê se compra um chuveiro novo com
todos esses Techs.
Com dinheiro, teoricamente, na
mão; Dwayne se retirou do prédio, rumando pelas ruas do Baixo Sétrium. Suja e
antiga, a província costeira atraía comerciantes por ser barata na taxação
portuária e pelas moças saradas e de baixo custo, além da vista grossa em
praticamente todo tipo de atividade ilícita.Chegava perto do edifício em que
morava quando foi abordado por dois homens mal-encarados, o que chegava a ser
um elogio naquela região. Bloquearam seu caminho.
- Paga...Agora! –
O mais velho e calvo dos dois falou se aproximando de Dwayne, seu hálito
exalava qualquer narcótico artesanal provido pelos bordeis locais.
- Não, não te devo
nada, Sydney! – Dwayne olhou para o colega do sujeito calvo. Sim, ele tinha uma
faca, pôde ver sua ponta sobressaltando-se do bolso do blusão.
- Deve sim, você e
aquela Twuonka roubaram um trampo
meu. Quero vinte e cinco por cento! – Continuou Sydney, pressionando o
indicador no peito de Dwayne.
- Eu não tenho
culpa pelo seu retardo de não saber negociar, agora sai da frente. – apesar da intimação
do rapaz, o homem não se moveu. – Tábom tem razão, vou te pagar com juros.
A cabeçada foi rápida e seca, esmigalhando
o osso nasal de Sydney, seu comparsa puxou a faca e desferiu um golpe, a lâmina
sibilou pelo ar rasgando o antebraço que Dwayne ofereceu para aparar o golpe.
Com a outra mão fechada ele cruzou o ar, acertando o maxilar do homem e
terminando com um chute lateral que o lançou de costas em uma caçamba de lixo
próxima.
Ofegando, sentiu o homem calvo o
segurar em um mata-leão – Baldido zeja
Dvayne, debois dagui, bamos gobrar zeus abigos dambém, dodos elez.
Existe uma prerrogativa sobre não ameaçar as
pessoas que um homem considera. Sydney, por sua vez não a conhecia. Dwayne pisou
com força no sapato de seu captor, achatando o peito de seu pé e amassando mais
alguns ossos, em seguida quando foi solto, aplicou um jeb de mão aberta no nariz de Sydney, terminando por segurá-lo pelo
pescoço e cruzar um murro em seu nariz já esfacelado. O parceiro do sklonïstes
calvo se ergueu pronto pra mais.
procurou a faca no chão,
resmungando em seu idioma oriental – Tá aqui comigo, Swoloch! – Dwayne acenava com a lâmina. O homem praguejou e saiu
correndo, Dwayne arremessou a faca em suas costas, devido ao porte enorme do
sujeito, não era difícil de acertar. Logo ele corria com as mãos tentando
arrancar a arma branca cravada em sua omoplata direita, de forma cômica.
Alcançou seu apartamento em uma
alameda não muito longe da praça. Adentrou a própria casa para se sentir um
salto ainda mais ranzinza e deprimido. Bateu a porta do flat e foi até o corredor que servia de cozinha, abriu um armário e
pegou aparatos medicinais e um gasificado de uva; sentou-se na poltrona no
aposento que servia de sala e começou a limpar o corte no antebraço, que cobriu
com algumas voltas do rolo de bandagem. Segundos depois de fechar os olhos, a
mente já se desvencilhando da realidade, Dwayne é obrigado a retornar ao mundo
dos acordados.
Batidas
fortes em sua porta o fizeram erguer a cabeça atento, mais batidas o fizeram
levantar e se jogar no sofá logo ao lado de joelhos, procurando algo nas fendas
do estofado. Tirou dali uma pequena pistola Crenston.45
e foi até a porta. Abriu-a com a pistola ao lado do corpo para encontrar uma jovem
loura muito bonita parada à sua porta, seu rosto era conhecido, apesar de seu
cabelo agora terminar na nuca e não próximo à cintura, e sua silhueta possuir
mais curvas,devido à maioridade, seus olhos mais cansados. O toque final foi a
prótese de braço da garota, que começava no ombro e terminava na mão biônica
com a qual ela agora ajeitava o cabelo.
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