segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Beyond The Blue Dot - Um conto original - Capítulo I

Nova série de Posts. 



     Capítulo 1 - Um porto comum 
      
    Qual é o sentido dessa vida, se não aquele que você mesmo aprende a dar pra ela?

                Dwayne sorriu ao se lembrar da frase favorita do pai, um homem simples que poderia ter se tornado um importante oficial na frota edenista. Trocou tudo por um submergível pesqueiro e um apartamento em Nova Ambrósia. A vida que ele buscava não era gloriosa em termos, mas lhe garantiu um sorriso no rosto até o fim.
                Ali, encostado na lateral do edifício corroído pela brisa do mar, esperando por seu empregador. O jovem que acabava de completar seus 25 anos, observava o cais do porto de onde seu pai costumava zarpar . O cheiro da água do mar adentrou suas narinas e o rapaz voltou sua atenção aos transeuntes na praça em que se encontrava. Marinheiros da União Mercantil Ocidental passavam com pesadas caixas de metal, feyties trocavam informações e condimentos em uma barraca no outro extremo da praça, em seu idioma rápido e espalhafatoso do extremo oriente, túnicas coloridas e ornadas com bijuterias diversas.
                Notou as belas damas do bordel da esquina vindo em sua direção. Uma das moças, a de cabelos esmeralda com uma trança ornada em dourado que atingia suas cochas, o cumprimentou. Foi puxada pela cintura pela colega, cujos cabelos raspados na lateral ajudavam a formar uma ilha roxa no topo da cabeça, seu rabo de cavalo seguia o mesmo tom roxo, ambas com tiras de couro escarlate que tapavam seus seios e vergonhas. Dwayne as observou irem até a praça caçar um lanche que não fosse nem a comida extremamente picante das terras de Al Fayet, nem a massa laranja e sem gosto, gratinada com anchova que os sklonïsteses trouxeram do Grande Abrigo.
                O pôr do Sol trazia os hololetreiros de volta ao cenário, projetados pelos diversos postes de holografia na praça, em um turbilhão de cores que contrastavam com a arquitetura decrépita e mal acabada de tijolos e reboco dos prédios. Num deles, um Edenista de porte atlético e autoritário convocava infantes ao serviço naval; Noutro, um Camponês de Jericoh convidava os transeuntes a experimentar as iguarias de seu Bar/Hotel em Nova Ambrósia. Nenhum era de grande interesse ao jovem adulto que já perdia a paciência devido a espera, notou na holografia de uma casa noturna, um relógio, se deu conta de que faltava um minuto para o horário combinado e riu em escárnio.
                O intercomunicador do edifício tocou. Dele, uma voz rouca e irritantemente pausada fez uma pergunta:
- O dia de hoje é propício a monção? – A voz pronunciou segura que haveria alguém ali, do lado de fora, para lhe responder.
- Depende da sua posição na colina, Dowson. – Dwayne respondeu, olhando em volta. Ninguém ligava para sua presença ali, os transeuntes estavam absortos em suas próprias atividades sombrias.
- Oh, você não aprende! Entre... – A voz abandonou a pausa e o decoro, em seguida veio o som elétrico da trava liberando a entrada do rapaz.
                Dwayne subiu a escadaria do prédio antigo até o quinto andar, aonde o corredor encardido levava a uma única porta de metal pesado, com contornos em amarelo e preto indicando isolamento, incluindo placas em vários idiomas pedindo distância e identificação. Ele caminhou calmamente até o portal, ignorando um bêbado jogado à parede ao seu lado, tocou a superfície de metal para descobrir o cano de uma arma nas costas.
- Você me irrita tanto quando faz isso... – Ele revirou os olhos, se virou e empurrou o cano da pistola bowie para o lado. – Anda logo, Dow. abre a porta!
                O " mendigo bêbado"que segurava a pistola abaixou o capuz do blusão, mesmo assim continuava parecendo um mendigo bêbado. A barba ruiva desgrenhada e os cabelos já ralos para alguém relativamente jovem, só ajudava os olhos verdes imensamente estrábicos a criar um visual terrível para Dowson. Ele abaixou a pistola como uma criança desapontada. Passou por Dwayne e empurrou a porta. Entraram no apartamento, que não combinava nada com o dono.
                junto a parede havia uma cama e um homebar, junto à uma escrivaninha. Objetos simplórios que contratavam com os avançados terminais e telas de computador cheias de linhas de programação que enchiam todo o ambiente. Ao centro da sala, havia um círculo de cabos luminosos de circuitos integrados delimitando uma Holocâmara de onde, dadas as certas linhas de programação, era possível alterar, revisar, programar e destruir fisicamente dados de qualquer tipo.
- Você não respeita os nossos códigos, cara. todo o segredo e tals. – Dow começou o desabafo pulando os enormes cabos de alimentação que cruzavam o assoalho, se conectando em terminais de todos os cantos do aposento.
- Me faz um favor? Cala a boca e me dá a minha parte dessa merda. – Dwayne lhe entregou um pequeno disquete preto e laminado, o ruivo o retirou de suas mãos como se o pequeno software fosse uma espécie de ídolo de ouro.  Caminhou até uma bancada, onde instalara seu desktop principal e se sentou na cadeira, começou a girar no acento observando o disquete.
- Quanto tem aqui? – Finalmente Dowson perguntou, inserindo o disquete num terminal e digitando nas infinitas linhas de código das quais Dwayne não entendia.
- Vale o que o contribuinte pagou, passa a minha parte agora, "chefia". –  O rapaz pediu, acompanhando o colega estrábico redigir um programa. Logo, no centro do apartamento, surgia na holocâmara layouts de contas bancárias, bancos de dados econômicos, mapas de navegação, controles militares, tudo manipulável fisicamente; bastando entrar no circulo da câmara. Os dois homens se aproximaram dos limites de fora do circulo holográfico.
- Bem-vindo de volta à B.A.B.E.L, Dwayne. – Dow colocou a mão no ombro de Dwayne e ergueu o outro braço, indicando para que o rapaz entrasse no circulo.
                Quando ambos entraram no círculo, puderam admirar a rede de informações digital do planeta. Informações em laranja e vermelho vagavam num espaço negro, ali dentro o quarto já não mais existia. Dowson se adiantou para uma informação que passava flutuando por eles e tocou-a, logo o globo holográfico se abriu inteiro na conta bancária de Dwayne. Com as próprias mãos, o ruivo estrábico adicionou números e fez  transações com outra conta, parecia pintar um quadro com os dedos nus.
- Pronto. Na sua conta. 250.000 Techgrants. – Downson não parecia tão maníaco dentro de seu círculo holográfico de onde acessava a rede de informações digital. Talvez por aquele ser, para ele, seu mundo real.
- Tranquilo. – Dwayne sussurrou, ficava admirado toda vez que adentrava aquele "mundo".
- Nosso contrato vai ficar feliz, lavei todo o extrato e multipliquei os algoritmos. Em três meses ele será mais rico que seu adversário usando o próprio dinheiro do babaca, genial! – Dow ria do que tinha sido sua própria ideia para a operação.
- Que bom, parte desse pagamento vai só pra abastecer minha barca. Foi uma puta navegação pra conseguir esse disquete. Três dias fora da rota perto do protetorado, mais três pra voltar. – Dwayne se lamentou, nesse momento, seu colega percebeu que havia algo de errado.
- Tá fazendo o trabalho de campo sozinho agora? Cadê a Ga...
- Ela...Não faz mais questão de andar comigo. – O rapaz cortou o ruivo, que coçou o queixo precariamente, impedido pela barba.
                Dowson encerrou a sessão holográfica e voltou a bancada, entregou a Dwayne o disquete e se sentou, analisando o amigo. – Joga no mar! – Comentou apontando para o disquete nas mãos do amigo.
- Deixa comigo... – Dwayne concordou, impassível.
- Olha, Edward, se quiser conversar... Eu não sabia disso, cara. Mas você vai se sair bem com ou sem a Ga...
- A minha tia Dilly me chamava de Edward. Eu to legal Dow, vê se compra um chuveiro novo com todos esses Techs.
                Com dinheiro, teoricamente, na mão; Dwayne se retirou do prédio, rumando pelas ruas do Baixo Sétrium. Suja e antiga, a província costeira atraía comerciantes por ser barata na taxação portuária e pelas moças saradas e de baixo custo, além da vista grossa em praticamente todo tipo de atividade ilícita.Chegava perto do edifício em que morava quando foi abordado por dois homens mal-encarados, o que chegava a ser um elogio naquela região. Bloquearam seu caminho.
- Paga...Agora! – O mais velho e calvo dos dois falou se aproximando de Dwayne, seu hálito exalava qualquer narcótico artesanal provido pelos bordeis locais.
- Não, não te devo nada, Sydney! – Dwayne olhou para o colega do sujeito calvo. Sim, ele tinha uma faca, pôde ver sua ponta sobressaltando-se do bolso do blusão.
- Deve sim, você e aquela Twuonka roubaram um trampo meu. Quero vinte e cinco por cento! – Continuou Sydney, pressionando o indicador no peito de Dwayne.
- Eu não tenho culpa pelo seu retardo de não saber negociar, agora sai da frente. – apesar da intimação do rapaz, o homem não se moveu. – Tábom tem razão, vou te pagar com juros.
                A cabeçada foi rápida e seca, esmigalhando o osso nasal de Sydney, seu comparsa puxou a faca e desferiu um golpe, a lâmina sibilou pelo ar rasgando o antebraço que Dwayne ofereceu para aparar o golpe. Com a outra mão fechada ele cruzou o ar, acertando o maxilar do homem e terminando com um chute lateral que o lançou de costas em uma caçamba de lixo próxima.
                Ofegando, sentiu o homem calvo o segurar em um mata-leão – Baldido zeja Dvayne, debois dagui, bamos gobrar zeus abigos dambém, dodos elez.
                 Existe uma prerrogativa sobre não ameaçar as pessoas que um homem considera. Sydney, por sua vez não a conhecia. Dwayne pisou com força no sapato de seu captor, achatando o peito de seu pé e amassando mais alguns ossos, em seguida quando foi solto, aplicou um jeb de mão aberta no nariz de Sydney, terminando por segurá-lo pelo pescoço e cruzar um murro em seu nariz já esfacelado. O parceiro do sklonïstes calvo se ergueu pronto pra mais.
                procurou a faca no chão, resmungando em seu idioma oriental – Tá aqui comigo, Swoloch! – Dwayne acenava com a lâmina. O homem praguejou e saiu correndo, Dwayne arremessou a faca em suas costas, devido ao porte enorme do sujeito, não era difícil de acertar. Logo ele corria com as mãos tentando arrancar a arma branca cravada em sua omoplata direita, de forma cômica.
                Alcançou seu apartamento em uma alameda não muito longe da praça. Adentrou a própria casa para se sentir um salto ainda mais ranzinza e deprimido. Bateu a porta do flat e foi até o corredor que servia de cozinha, abriu um armário e pegou aparatos medicinais e um gasificado de uva; sentou-se na poltrona no aposento que servia de sala e começou a limpar o corte no antebraço, que cobriu com algumas voltas do rolo de bandagem. Segundos depois de fechar os olhos, a mente já se desvencilhando da realidade, Dwayne é obrigado a retornar ao mundo dos acordados.
                Batidas fortes em sua porta o fizeram erguer a cabeça atento, mais batidas o fizeram levantar e se jogar no sofá logo ao lado de joelhos, procurando algo nas fendas do estofado. Tirou dali uma pequena pistola Crenston.45 e foi até a porta. Abriu-a com a pistola ao lado do corpo para encontrar uma jovem loura muito bonita parada à sua porta, seu rosto era conhecido, apesar de seu cabelo agora terminar na nuca e não próximo à cintura, e sua silhueta possuir mais curvas,devido à maioridade, seus olhos mais cansados. O toque final foi a prótese de braço da garota, que começava no ombro e terminava na mão biônica com a qual ela agora ajeitava o cabelo.

- Elizabeth?

Capítulo II - Link para continuação

Nenhum comentário:

Postar um comentário